segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Idosos investem na corrida de rua para uma vida mais saudável


Aprender a correr em um bom ritmo não é privilégio dos mais jovens. Mas fique atento: começar no esporte, sobretudo depois dos 40 anos, exige calma e ajuda profissional

Todos os dias, inclusive aos fins de semana, Jocenildo Dantas, 71 anos — Barbosinha, como prefere ser chamado —, levanta cedo e vai para o Parque da Cidade. Caminhar? Não. Correr mesmo. A atividade, que poderia ser apontada como uma prática exclusiva dos mais jovens, faz parte da rotina do aposentado há 18 anos. A demora para começar não foi um impedimento para que ele chegasse até mesmo a participar de competições. Hoje, os cerca de 5km diários são dedicados apenas ao prazer e à manutenção do condicionamento físico.


Mas nem sempre foi tão fácil assim. Na verdade, o início das corridas era bastante árduo. “Eu ficava cansado no meio do caminho e pensava em desistir. Mas alguma coisa lá dentro me mandava continuar”, recorda-se, com orgulho. “Aí, o ‘vírus’ picou”, brinca, dizendo ser hoje um viciado na prática.
A obrigação virou mania aos poucos. A princípio, Barbosinha só caminhava, até se habituar novamente aos exercícios físicos. “Eu jogava futebol, mas parei tudo por 20 anos. Nesse tempo, fiquei obeso e comecei a ter bronquite. O médico me disse que a minha condição física estava fraca”, relata.
Determinado a mudar o diagnóstico no auge dos seus 53 anos, Jocenildo procurou um técnico para montar um programa de treinamento. E a mudança veio. “Sumiu tudo. Antes, eu sentia dores na lombar para levantar da cadeira. Até a bronquite eu administrei. Eu estava indo para o buraco. Foi uma mudança radical na minha vida”, comemora. Além da saúde fraca, sumiram 19kg para dar lugar a um corpo e a um vigor invejáveis.
A experiência de Barbosinha confirma o que os especialistas dizem para quem deseja aprender a correr: nunca é tarde para começar. “Há pessoas de 40 anos com condicionamento muito pior do que outras de 60”, destaca o personal trainer Carlos Eduardo Chiarini. “O início é difícil para todo mundo, mas aí está a importância de se respeitar o limite individual”, pondera. Conhecendo até onde o corpo consegue ir, são montados os programas de treinamento, tarefa feita, preferencialmente, por um profissional da área e não por conta própria.
Por uma vida saudável

Ânimo não falta para o aposentado Tarcísio Coutinho, 58 anos. Há 13 anos, ele não poupa palavras para elogiar a atividade que passou a fazer parte de todos os seus dias. “Eu já caminhava, mas o corpo, naturalmente, começou a pedir um pouco mais. No início, eu conseguia correr forte nos dois primeiros quilômetros, mas depois não aguentava mais”, relembra. Com a ajuda de professores e amigos, Tarcísio aprendeu também a tomar gosto pelo esporte e, hoje, já dá suas lições. “Nós aprendemos a correr assim 
como os bebês aprendem a caminhar. Você erra um pouco, dá umas tropeçadas, mas, depois, vai sabendo como pisar corretamente, respirar e escolher roupas e calçados adequados.”
Para o aposentado, os benefícios conquistados vão além dos físicos. “Meu limite de velocidade mudou com a idade, mas a alegria é a mesma. Acho a corrida antidepressiva. Você dorme melhor, dá boas risadas no parque, encontra amigos. Além disso, podemos ver como estamos bem em comparação com outras pessoas da mesma idade”, constata.
Nada de cigarro e bebidas
O comerciário Eudes Silva, 46 anos, também viu as vantagens aparecerem. “Parei de fumar por influência da minha filha, mas não queria engordar. Nunca mais parei, corro há 13 anos”, conta. “Eu não tinha pulmão, corria 2km e sentia como se tivesse corrido uns 10km. Gradualmente, fui melhorando”, diz, satisfeito. “Você acaba viciando. Hoje eu tenho mais disposição até para trabalhar. Além do cigarro, também parei de beber.”
A psicóloga Lenira Ribeiro, 46, quase desistiu das atividades físicas. Até que um encontro em um banco mudou sua história. “Meu personal trainer me viu e me mandou voltar a fazer exercícios. Como ele estava dando treinos no parque, comecei a correr”, recorda. Com apenas dois meses de prática, ela já vê as diferenças. “Antes, eu cansava de subir cinco degraus. Hoje, subo dez”, conta.
Cautela: o melhor remédio
Ainda que o exercício físico seja mais do que recomendado, tomar as medidas preventivas é necessário para os praticantes de todas as idades, principalmente os mais velhos. “Antes de começar o treino, recomendo fazer um trabalho de fortalecimento, sobretudo dos membros inferiores. Nos jovens, isso vai possibilitar um ganho de massa muscular. Com a idade, isso acontece em menos proporção, mas o idoso precisa ter cuidado com os ossos, para não sofrer lesões”, adverte o personal trainer Rafael França, que desenvolve um trabalho na Universidade de Brasília (UnB) com diabéticos e idosos.
“Além disso, é importante fazer exercícios antes da corrida, para ajustar a postura. Isso também diminui o risco de lesões”, explica. Segundo ele, muitas pessoas decidem correr influenciadas pela tendência atual da modalidade, mas acabam se machucando e desistindo da prática por não treinarem com a segurança adequada. “O professor tem a obrigação de conhecer o limite de cada aluno. Deve ser feita uma anamnese antes, principalmente em idades mais avançadas, para identificar patologias”, avisa.

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